O que desencadeia um infarto do miocárdio? Por muito tempo, acreditava-se que um evento cardiovascular ocorria após muitos anos de estreitamento progressivo da artéria coronária (artérias coronárias são estruturas responsáveis por levar o sangue oxigenado ao músculo cardíaco). De acordo com este ponto de vista, o infarto do miocárdio se desenvolve como resultado do acúmulo progressivo de depósitos de colesterol no revestimento das artérias coronárias, levando à cessação completa do fluxo sanguíneo. Esta teoria sustentava que, ao longo do tempo, os depósitos de colesterol se acumulariam e, finalmente, interromperiam o fluxo sanguíneo, levando ao infarto do miocárdio.
Nos últimos anos, esse paradigma foi amplamente alterado e substituído por uma imagem mais complexa e menos intuitiva. Estudos angiográficos revelaram, surpreendentemente, que os eventos coronários agudos geralmente surgem de lesões coronárias “leves” que tem obstruções menores do que 50% da luz. A explicação para esse achado paradoxal é que as placas vulneráveis, as mais propensas a se romper e evoluir para uma oclusão trombótica completa, são aquelas com núcleos lipídicos grandes e tampões fibrosos finos.
O grande problema para nós médicos e para os pacientes é que essas placas, aparentemente inofensivas, podem entrar em erupção a qualquer momento, causando um evento cardíaco potencialmente letal.
Este cenário tem implicações tanto para a detecção quanto para o tratamento da doença coronariana. No que diz respeito à detecção, uma lesão coronária ligeiramente estenótica, ou seja, onde a artéria tem uma obstrução pequena, não é limitante de fluxo e, portanto, não se espera que resulte em dor torácica ou provoque achados anormais no teste ergométrico que realizamos durante um checkup. Esta é a explicação para casos de pacientes que tem infarto do miocárdio algum tempos após terem realizado uma enorme bateria de exames cardiológicos com resultados normais.
Lamentavelmente, não temos como saber quando essa pequena obstrução da coronária vai se tornar grave a ponto de causar um infarto, sendo assim, é extremamente importante que a atenuemos, impedindo a progressão da doença arterial coronária atuando nos seus fatores de risco.
Sabemos que os desencadeantes da doença arterial coronariana são tanto genéticos quanto ambientais. Fatores genéticos incluem distúrbios metabólicos hereditários, incluindo dislipidemia e diabetes. Os fatores ambientais e de estilo de vida incluem desequilíbrio nutricional; estilo de vida sedentário; estresse e depressão; fumar; e poluição do ar. Dessa maneira, a prevenção dessa doença é fundamental, pois muitas vezes fica escondida, à espreita, aguardando um deslize nosso para se manifestar.