Essa afirmação tem estado cada vez mais presente no nosso dia a dia de consultório, principalmente após uma série de exames de check-up, onde a ultrassonografia de abdome, revela “infiltração gordurosa do fígado”, ou esteatose hepática.
A esteatose é vista como a doença do fígado mais comum nos países industrializados ocidentais. Apresenta-se geralmente em faixa etária de 40 a 50 anos, e tem como principais fatores de risco a obesidade, o diabetes mellitus tipo 2, as dislipidemias e a síndrome metabólica.
É uma condição extremamente comum que afeta 25 a 30% da população adulta em geral, 15% das crianças e mais de 50% dos diabéticos com sobrepeso, obesos e tipo 2. Obesos apresentam esteatose em cerca de 50% dos casos. Nos indivíduos com diabetes tipo 2 e resistência à insulina sua prevalência é de 25 a 69%. No Brasil a prevalência geral de esteatose não é conhecida, mas, avaliada por ultrassonografia, está estimada em 18%.
O paciente portador dessa infiltração gordurosa do fígado não tem sintomas sendo o diagnóstico realizado por acaso, durante a realização de ultrassom de abdome. Muitos pacientes com esse tipo de doença, nunca desenvolvem inflamação, ou seja, a esteatohepatite não alcoólica, embora admita-se que isso possa ocorrer em 1/3 dos portadores de esteatose hepática não alcoólica.
A esteato-hepatite não-alcoólica é uma condição, mais grave, que causa inflamação e acúmulo de gordura e tecido cicatricial no fígado, podendo evoluir, ao longo dos anos, para cirrose e carcinoma hepatocelular (câncer de fígado).
Os principais fatores de risco para a doença, são sobrepeso/obesidade, resistência à insulina/diabetes tipo 2, hipertrigliceridemia e principalmente a ingestão de bebidas adoçadas com frutose. Por si só, em diferentes estudos observacionais, apenas o consumo de refrigerantes açucarados (principalmente com frutose) aumenta o risco de desenvolver a doença em torno de 55%.
A esteatose hepática não alcoólica é o primeiro passo para o desenvolvimento de alterações irreversíveis do parênquima hepático levando a cirrose. Cerca de 30% dos casos de esteatose hepática não alcoólica podem evoluir para a forma de esteatohepatite e 15% destes podem degenerar em cirrose hepática.
A esteatose hepática é, por si só, um fator de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular e diabetes tipo 2, e dados preliminares sugerem que ela também pode estar associada a uma maior incidência de patologias oncológicas hepáticas e extra-hepáticas.
Qual o prognóstico da esteatose hepática não alcoólica?
O prognóstico pode ser bom, mas depende da fase em que a doença for diagnosticada e principalmente da aderência dos pacientes às condutas clínicas e tratamentos recomendados.
Desde que controlados os fatores que causaram a doença, a esteatose pode permanecer estável em torno de 70 a 80% dos pacientes. Em 20 a 30% dos casos a esteatose pode evoluir para esteatoepatite, que pode ser controlada com o tratamento adequado. Entretanto essa forma da doença tem maior potencial de progressão ao longo dos anos para cirrose e carcinoma hepatocelular, se não for devidamente orientada. Assim, duas condutas são fundamentais e determinantes para um melhor prognóstico para o paciente portador de esteatose ou esteatoepatite: diagnóstico precoce principalmente para as pessoas de maior risco (obesos, diabéticos, portadores de hipertensão arterial e dislipidemia) e aderência dos pacientes, ao longo da vida, às condutas e tratamento, orientadas pelo seu médico.