Madrugada, noite fria de inverno dos anos 80, na porta do quarto onde descansava, ouvia baterem fortemente: Doutor Roque, chamado urgente! O termômetro marcava 4 graus.
Rapidamente me vestia e sem deixar de lado um abrigo pesado de lã, saíamos, o motorista da ambulância e eu, loucamente pelas ruas de São Paulo , para desesperadamente lutarmos contra o maior assassino da historia da humanidade: O infarto do Miocárdio.
Quantas e quantas vezes isso se repetiu na minha vida profissional, quantas e quantas vezes cheguei na casa dos pacientes tarde demais. Infelizmente metade dos pacientes infartados morriam e continuam morrendo antes mesmo de chegar o atendimento medico, por mais rápido que este o seja. O infarto do miocárdio faz parte das doenças cardiovasculares, que são responsáveis por um terço de todas as mortes do mundo inteiro , sendo no inverno, sua ocorrência mais frequente.
Temperaturas mais frias, com médias diárias abaixo de 14ºC, podem determinar aumento de até 30% da mortalidade do infarto do miocárdio. O clima frio desencadeia também outras doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (derrame) , angina e arritmias cardíacas. Pacientes com colesterol elevado, hipertensão arterial, diabetes, tabagistas e idosos são as mais vulneráveis a sofrerem infarto nessa época do ano.
Ao sentir o frio, receptores nervosos da pele estimulam a liberação de adrenalina e noradrenalina, hormônio responsável por contrair os vasos sanguíneos, ocasionando estreitamento dos mesmos. Essa vasoconstricção pode gerar rupturas de placas de gordura pré existentes na parede das artérias coronárias (artérias que irrigam o coração), podendo ocasionar entupimentos e consequentemente o infarto.
A poluição é outro fator agravante. Sabemos que no inverno, há um grande aumento de partículas poluentes no ar das grandes cidades, que podem reduzir a capacidade de defesa do sistema pulmonar , de modo a torná-lo mais susceptível à doenças inflamatórias, daí surgem gripes e pneumonias que podem descompensar o coração, levando a insuficiência cardíaca . Uma das coisas que sempre recomendo a meus clientes, principal mente idosos, é não deixarem de tomar a vacina da gripe no outono para evitarem as complicações maiores no inverno.